domingo, 6 de março de 2011

PERCEPÇÃO VISUAL


         A percepção visual representa uma interface entre o cérebro e o meio ambiente. O sistema responsável pela visão é caracterizado por milhões de células que reagem detalhadamente a aspectos do que está ao nosso redor. Essas células nervosas respondem a cada componente da imagem como direção, grau de inclinação, forma, cor, através da ativação de áreas especializadas dentro do córtex visual. A tipografia está intimamente ligada ao sistema que analisa as formas, neste caso.
          Embora a imagem seja “fatiada” em diversas partes, o cérebro não retira o significado em cima das partes isoladas. Ou seja, nenhuma análise é feita a partir apenas da forma, por exemplo. Percebe-se que já no processo da visão, tudo trabalha de modo relativo e interdependente. Um fator específico (digamos a cor) pode afetar todos os demais.
          Dentro do sistema visual, várias partes trabalham de modo separado e ao mesmo tempo em harmonia com as demais, de modo a ativar a inibir certas respostas, e existe um contato contínuo entre essas partes. No dia-a-dia dos designers gráficos, é comum que os clientes solicitem mudanças nos desenhos e layouts, imaginando que isso não afetará todo o trabalho. Isso é um engano, pois todos os elementos de uma página ou item de comunicação são interdependentes. Mexer em uma cor, tamanho de um logotipo, posição na página, enfim, qualquer mudança, pode requerer que a página tenha que ser reajustada.

CURIOSIDADES SOBRE A PERCEPÇÃO VISUAL


                 Assim, a percepção não é baseada num contato imediato com o meio ambiente, mas sim no contato com esse pequeno mapa resumido que “representa” o que chega aos nossos olhos. A imagem que está sendo processada na nossa mente guarda apenas os detalhes mais importantes do ambiente, aqueles detalhes que são suficientes para efetuar comparações e análises. As formas (incluindo as letras) que vemos não são pequenas miniaturas que chegam ao cérebro, mas apenas padrões simplificados que representam essas formas.
               A visão não é simplesmente um processo de enxergar-analisar-entender. Funciona mais como um sistema de exploração contínua, que não tem fim, em que cada vez mais dados são coletados do ambiente e isso afeta a cada momento a percepção total. Todas as vezes em que olhamos ao nosso redor, estamos continuamente respondendo nossas dúvidas sobre o ambiente e fazendo novas perguntas. Ao ver um pontinho preto na nossa pele, que não havíamos visto antes, nos perguntamos como ele foi parar ali? Há outros pontinhos na pele? Isso mostra que durante a visão a nossa memória participa ativamente. Assim, podemos afirmar que só enxergamos de certo modo, aquilo que conhecemos. Somos cegos para o que não aprendemos antes. A nossa visão é extremamente “preconceituosa” e enxerga tudo de modo muito particular. Cada pessoa tem uma visão diferente do mundo.
        Os olhos tem inteligência. Como todas as informações que recebemos do nosso ambiente são bagunçadas e cheias de duplo sentido, os olhos tem que trabalhar para perceber mudanças e “não-mudanças”, de modo a organizar o que chega a partir do mundo exterior.
             Quando a visão vê um objeto pela primeira vez, não guarda o objeto inteiro. Até porque, convenhamos, isso ia ser um problema, pois, como o cérebro faria para saber de quê ângulo o objeto deveria ser “fotografado” pela mente? De frente? De lado? De cima? Agindo dessa maneira, teríamos que enxergar todos os ângulos possíveis da forma e nosso cérebro ficaria entulhado com um monte de imagens repetidas do mesmo objeto. Ou seja, seria um desperdício de espaço. O que o cérebro na verdade faz é guardar apenas as formas que contém as características que não mudam nos objetos, independente do ângulo em que estejam sendo vistos. Essas formas que o cérebro guarda recebe o nome de padrões invariantes (ou seja, que não mudam).
                Conforme nossa memória visual vai crescendo, usamos esses padrões para detectar as formas básicas e pra tentar adivinhar as formas intermediárias que aparecem quando estão em diferentes posições.
              Quando a visão está tentando reconhecer um objeto, na verdade o cérebro compara os dados que vêm da retina com o padrão guardado na memória de longa-duração. A representação na memória que se enquadra mais perfeitamente com o que a retina está recebendo é selecionada como sendo o objeto visto. Assim, basta vermos por exemplo o contorno da sombra de uma planta para sermos capazes de detectá-lo pela memória, usando um padrão simplificado.
           Como dificilmente um objeto ou forma permanece a mesma pra sempre, a memória visual continua evoluindo e se modificando com a experiência. Cada vez que vemos algo mudar, a memória visual é atualizada de modo a refletir a diferença do objeto. Novamente, o que o cérebro vê e o que a memória guarda são as diferenças. O cérebro nunca guarda duas ocorrências da mesma coisa. Esse é um argumento pela qual um logotipo ou símbolo nunca deve ser igual a outro similar, pois ao fazer a simplificação das formas, o cérebro percebe que na verdade tem o mesmo padrão e então descarta o logotipo copiado, já que aquele padrão já tinha sido armazenado na memória.
              O psicólogo James Gibson, em seu livro sobre a teoria ecológica da óptica, diz que não é a luz em si que define se um objeto é visível ou terá essa ou aquela forma. Pra ele o que importa é a “relação”, ou seja, são as mudanças e transições na matriz ótica e não a luz em si mesma, que afetam a visão. São as diferenças entre os pontos e retalhos de luz que nós vemos. Assim sendo, é a “mudança” que ativa a visão e é o “relacionamento” que carrega o significado.
               A escola de percepção visual chamada Gestalt aponta para esse mesmo raciocínio. Segundo ela, os princípios que norteiam a percepção estão no espaços “entre” os elementos ao invés de estar “dentro” deles. O significado deveria ser encontrado na relação entre os objetos e no relacionamento que formaria a imagem total, não nas partes separadas em si.



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